Na seqüela de Jesus mestre

Podemos conhecê-la pessoalmente, não só no seu estilo de expressão, como na sua vida, através de suas cartas transparentes, conservadas por algumas correspondentes como precioso tesouro.

Escrevia, em janeiro de 1869, à sua irmã, Ir. Genoveffa, também educadora Marcelina:

Cara Genoveffa,

Com a prontidão de sempre, respondo a sua cartinha que muito me agradou como também me agradou o santo que nela você incluiu. Agradeço muito a delicadeza que teve comigo. Lamento seu resfriado; espero que tenha juízo e procure livrar-se dele logo. Sim, mantenha-se com saúde, pois, com eia se cumpre melhor os deveres. Esteja sempre alegre e pense que Deus a ama verdadeiramente e ajudá-la-á, mais do que pensa, a instruir e educar bem suas alunas. Não considere inútil o cansaço sem fruto imediato; tenha paciência, que, com a ajuda de Deus, poderá ganhar muito, trabalhando na sua vinha. Quando acharmos que nosso trabalho supere nossas forças, não nos desanimemos, pois, então, teremos mais razões e quase um direito de esperar mais auxilio de Deus. Pois, se a vontade dos Superiores é para nós a vontade de Deus, devemos admitir que é Deus quem nos coloca naquela escola, naquela oficio, etc. Deus nunca no dará um peso superior às nossas forças; logo, é certo que, quanto major for a nossa insuficiência, major será também a sua ajuda, para que sua obra não fracasse.

Coragem, pois, e alegria; esforcemo-nos para cumprir nossos deveres e pensemos que Cristo há de fazer sua parte e a fará como sempre.

Eram as convicções profundas que sustentavam sua opção existencial, conhecia o peso do apostolado na escola, mas o amava porque ele a tornava colaboradora de Jesus Cristo.

Escrevia a urna aluna:

Sou-lhe gratíssima pela linda cartinha que me escreveu. Considero-a um feliz prenúncio de que, na entrada do novo ano escolar, terei em você uma das alunas que melhor saberá tornar suave o já agradável dever de educar. E verdade que pouco valho, mas esperemos que o, Senhor considere a boa vontade de me dedicar inteiramente ao seu bem e ao de todas as minhas queridas alunas. (5.10.1880).

Irmã Marianna dedicava-se, incansavelmente, às suas alunas para que se tornassem não só cultas, mas também fortes na fé e em todas as virtudes cristãs, como a mulher forte, elogiada na Sagrada Escritura. E as encorajava nas dificuldades da vida:

Coragem, minha Virginia, coragem e grande confiança em Deus, que sempre vela sobre você com um olhar de Pai amoroso. Ele nunca Me faltará; ajudá-la-á educar bem os queridos filhinhos que lhe confiou, qual depósito sagrado, reservando-lhe contudo, grande prêmio pelo que deles fizer para o céu e para a sociedade. Deus a sustentará nos momentos da prova; (...) se-lhe-á pródigo em conceder-lhe aquelas graças que mais deseja o coração de uma boa e virtuosa mãe de família. (a Virginia Limonta, 29.7.1877).

Urna aluna declara no processo:

Na educação das alunas tinha como único fim: formar verdadeiras cristãs que pudessem formar cristãmente as próprias famílias, difundindo o Reino de Deus.

Urna outra acrescenta:

O fim de todo seu ensinamento era formar as alunas, para que fossem mães de família verdadeiramente cristãs.

Ir. Marianna tinha para com suas alunas um relacionamento de grande clareza, de lealdade, de sinceridade. Por ser verdadeira queria a verdade.

As alunas entendiam-no e nutriam por ela urna sincera afeição. Que a afeição, por elas, fosse simples e autêntica, declara-o, surpreendentemente, a própria Ir. Marianna, numa carta que podemos considerar a mais significativa de seu epistolário: a da despedida da Superiora do Colégio de Genova, depois de ter recebido a obediência que a transferia para Milão:

Milão, 1 de novembro de 1878

Querida Superiora Catarina

Recebi, ontem, a noticia da minha nova destinação. Eu estou ainda tão confusa que não sei exprimir o que ela produziu no meu espirito. Basta, o Senhor assim o quer; ele me ajudará.

E aquela santa indiferença de que falávamos, quanto me falta para consegui-la! Envergonho-me de mim mesma. Enquanto me considerava pronta a qualquer sacrifício, na prática, a natureza ainda se ressente vivamente.

Querida superiora, reze por mim (...).

Eu a lembrarei, diariamente, junto ao Senhor, como único meio que me resta para compensá-la pelas múltiplas atenções e caridade que usou para comigo, que trarei, uma por uma, escritas no coração. Quantas vezes, talvez, a desgostei, principalmente com meu caráter selvagem e seco! Peço perdão à senhora e a todas as minhas boas irmãs pelas faltas cometidas para com todas. Cumprimente-as e diga-lhes que guardarei uma doce lembrança de todas.

E as caras alunas? E as majores? Oh, se soubessem o quanto sinto a separação! Não sabia que as amava tanto! Querida Superiora, queira abraçá-las e dizer-lhes uma boa palavra por mim. Que o Senhor Me conceda um ano verdadeiramente abençoado, para a sua consolação e das Irmãs, especialmente das que se ocuparão mais delas.

Devo terminar, embora tenha muito a dizer-lhe ainda. Fica para uma outra vez.

Cumprimento-a e de novo Me agradeço. (...) recomendo-me às suas orações, para obter o auxilio no cumprimento da vontade de Deus.

Creia-me sempre afetuosa e grata.

Ir. Marianna Sala

 

P.S. - Relendo a carta pareceu-me dar-lhe a impressão de que sofro muito aqui. Não, sinto a separação, mas Deus me ajuda. A Madre Superiora me trata com uma bondade acima do que mereço e as Irmãs se mostram verdadeiramente Irmãs. Deus me ajude a corresponder a tudo.

Milão, o Colégio de Via Quadronno, onde Ir. Sala morreu